quinta-feira, 10 de julho de 2008

ASSIM É SE LHE PARECE - CONTO

Sandra entra na pequena transversal onde já há muitos anos deixa seu Gol. Não é trecho zona azul e está a menos de 100 metros da empresa onde trabalha, mas não tem estacionamento. Desliga o motor, junta pasta e bolsa que estão jogadas no banco ao lado e se prepara para sair do carro quando nota um Ka que estaciona em frente ao seu. Dele sai uma moça, entre 32/35 anos, loira, alta e esguia, muito bonita, que corre em direção de um Chevrolet que acaba de para atrás do seu Gol. Pelo espelho a vê entrar nele correndo, um rápido beijo e o carro arranca. Ao passar ao lado de Sandra, ela nota ao voltante um homem extremamente elegante, cabelo grisalho. Um charme.
Sandra tranca o carro e, ao encaminhar-se para a firma, olha o céu e pensa que deveria ter tirado o guarda-chuva do porta mala. Paciência. Não volta atrás. Durante a curta caminhada sorri pela cena que acaba de presenciar. Está na cara: o típico comportamento de um relacionamento em que o encontro não deve ser presenciado. Cada um sai com seu carro por um certo trecho e depois seguem juntos; quem sabe o indefectível caso de chefe e secretária, ou, simplesmente, vão passar o dia interinho juntos em algum motel. Por que não? Uma ponta de inveja obscurece o sorriso de Sandra. Ela aperta o passo: vai ter um dia pesado.
O Chevrolet desce os 100 metros da ruela e, assim que entra na Avenida, pára na porta do edificio de uma grande empresa internacional. Ainda com o carro ligado, ele põe a mão no joelho da mulher, inclina-se para beijá-la e, ao despedir-se, recomenda: "Querida, quando você sair do trabalho e depois de pegar as crianças na escola, chegando em casa me liga para dizer o que a Rosa preparou para o jantar, assim saberei que tipo de vinho comprar. Seria até melhor se os meninos jantassem antes; o Dr. Rodrigues não me parece homem de atuarar crianças à mesa."
Ela pisca um sorriso maroto: "Deixa comigo..."

Nenhum comentário: