terça-feira, 7 de abril de 2009

HOMENAGEM A PHILIP ROTH E A SEU OLHAR LÚCIDO SOBRE A JUVENTUDE / VELHICE E VIDA/MORTE

TRECHO SELECIONADO DO SEU LIVRO "THE DYING ANIMAL"
(tradução de Paulo Henriques Britto)

Você pode imaginar o que é velhice? É claro que não. Eu não podia. Nunca consegui. Não fazia idéia do que era. Não tinha nem mesmo uma imagem falsa, não tinha imagem nenhuma... Ninguém quer encarar a velhice antes de ser obrigado a encará-la...Por motivos óbvios, é impossível imaginar uma etapa de vida posterior àquela em que estamos. Às vezes já chegamos na metade da fase seguinte quando nos damos conta de que já estamos nela. Além disso, as primeiras etapas da velhice tém lá suas vantagens.
Mesmo assim, as intermediárias são ameaçadoras para muita gente. Mas e a etapa final? Curioso: é a primeira vez na vida que você consegue ficar completamente por fora da situação que você está vivendo. Observar a decadência do próprio corpo de um ponto de vista externo, permite que a gente se sinta, graças à vitalidade que continua a ter, a uma distância razoável dessa decadência - às vezes dá até para sentir-se orgulhosamente independente dela...
É importante traçar uma distinção entre morrer e a morte. O morrer não é um processo ininterrupto. Se a gente tem saúde e se sente bem, é um processo invisível. O final, que é uma certeza, nem sempre se anuncia de maneira espalhafatosa. Não você não consegue entender. A única coisa que você entende a respeito dos velhos quando você não é velho, é que eles foram marcados pelo tempo. Mas compreender isso só tem o efeito de fixá-los no tempo deles, e assim você não compreende nada.
Para aqueles que ainda não são velhos, ser velho significa TER SIDO. Porém ser velho significa também que, apesar e além de ter sido, você continua sendo. Esse ter sido ainda está cheio de vida. Você continua sendo, e a consciência de continuar sendo é tão avassaladora quanto a consciência de ter sido.
Eis uma maneira de encarar a velhice: é a época da vida em que a consciência de que sua vida está em jogo é apenas um fato cotidiano. É impossível não saber o fim que o aguarda em breve. O silêncio em que você vai mergulhar para sempre. Fora isso, tudo é tal como antes. Fora isso, você continua sendo imortal enquante vive.

2 comentários:

Kely Cristina S. Felício disse...

Nossa, que bonito isso, tenho 36 anos e me irrita muito isso de velho ser acervo, ser estante, patrimônio, inerte, dessensualizado, disponível para consulta ou para ser esquecido, evitado. Inclusive é feio dizer velho, há que se ter vergonha de envelhecer e ficar pondo glacê na realidade (feia? por quê?), dizendo Idoso (idoso pode), melhor ainda Melhor idade (expressão zinha ridícula). Há que se acriançar o velho, hiperentusiasmá-lo para que ele nos pareça mais palatável, para que nossa finitude, anunciada visivelmente por ele, nos deixe em paz na nossa caricatura de eterno. Mas estar velho é devir, mesmo que haja e haverá um devir fora dessa vida conhecida, mas, por enquanto velhice é vida nessa carne, pulsante, amante, quiçá maislenta, quiçá mais frágil, mas, minha, amada, vivida. Se houver morte, que ela me seja evento e instrumento, da vida. Bjs.

Kely Cristina S. Felício disse...

Bruna, obrigada por seu comentário em meu blog, lembrei-me de te falar de um filme lindo "A excêntrica família de Antônia", é lindo, a aceitação da vida, do tempo, das nuances de viver e de morrer, do único que cada um é em movimento...Há uma cena linda em que a neta de Antõnia lhe pergunta por que tantas coisas aconteceram, pessoas que nasceram, morreram, alegraram, entristeceram... e ela responde "porque a vida quer viver". Um beijo, vou ler seus textos novos com calma.