sábado, 24 de outubro de 2009

A LOJA DE BRINQUEDOS - Conto

Os cavalinhos de rodinhas estavam alvoroçados.
-Como alguém poderá escolher se eles se diferenciam só pela cor.....
-E aqueles pinos de boliche que tem cores diferentes sim, mas também tamanhos diferentes, e estão tão mal expostos que se confundem com peças de xadrez.
Mas o que mais enraivecia os cavalinhos era aquela boneca.
-Porque ela é tão grande, tão maior do qualquer outro brinquedo: não parece ser nem brinquedo nem boneca.....
-E olha aquela mulher que vê tudo do lado de fora e não se decide a entrar.
-Porque não entra e escolhe de uma vez...

A boneca é grande demais, cabelos lisos demais, sedosos demais e compridos demais; a boca vermelha demais. E parece estar quase sem roupa. A velha senhora do lado de lá da vitrine, está intrigada e pensativa. Intrigada pela estranheza da posição da boneca; pensativa por sua memoria estar sendo posta a prova. A boneca tem um sorriso parado, quase feliz; como se estivesse pensando numa cena romântica, num salão todo vermelho, onde ela, esguia e leve, dança no futuro, abraçada a um cavalheiro desconhecido, esguio e leve.
Sim, o sorriso parece feliz mas é fixo, pintado e desenhado como para não sair do lugar. E o olhar também é fixo, sem nuances de luz.

............Era como se a boneca fosse tão grande por ter crescido junto às lembranças da velha senhora. Olhos fixos, parados, como os da Titti, depois que a menina lhe enfiara um lápis, para ver o que tinham atrás que os fazia mexer, abrir e fechar.
E fechados ficaram, quando a abandonou, como morta, bracinhos esmagados e semi-nua, entre os escombros da casa onde nunca mais voltaria a morar.


3 comentários:

Paulo Fodra disse...

Nossa Bruna! Texto fantástico, fui parar longe enquanto lia... muito bom!

Ellen disse...

Bruna, saudades!

Cadê nosso chá com K7s? Dispenso os K7s, almejo a companhia!

Sua pena está ficando afiada! Afinada! A gente apaga, se translada, e cuando seu texto acaba, se cái de volta ao agora atordoada!

(Perdão pelas rimas, foi sem querer...)

Lohan Lage Pignone disse...

Seus textos são ''viajantes''. Nunca viajei tnto em um texto, rs.
Parabéns, Bruna.