domingo, 20 de dezembro de 2009

MÁRCIA PERGUNTOU........

Muitos pensam que eu escrevo porquê não tenho o que fazer. Outros já se desculparam por isto. A verdade é que escrevo desde criança.
Tive a sorte -durante alguns anos escolares- de ter sido obrigada a aprender resumindo as lições marcadas nos meus livros. História? resumir de pagina tal a tal. Literatura? Texto de fulano: resumir de página tal a tal. Portanto aprendi a escrever resumindo, gosto até hoje e escrevo "curto". Mas foi só há pouco tempo que percebi que precisava escrever para que os outros me interpretassem corretamente. Em discussão eu não convencia. Colocando tudo preto no branco, até consigo ganhar a parada.
Hoje, ao publicar algo no meu blog, basta sentir-me satisfeita em clareza e sinceridade, o que considero essencial para que o leitor entenda o espirito com que o concebi e tire disto algum prazer. Não tenho projetos mirabolantes, não quero escrever romances, não quero ser best-seller. Um livro de contos? Talvez.
Eles nascem de imagens, que me vêm de experiências pessoais, realizadas ou não, ganhas, ou não. Em cada época marcante de vida, devo ter resumido as imagens mais vibrantes arquivando-as no subconsciente. Frequentemente confusas, são elas, aquelas cores, aqueles sabores, aqueles arrepios, que se transformam em fantasias, que crescem, incham e recheiam as lembranças com os desejos não realizados e, finalmente criam meus textos. Mas preciso que alguém me dê um tema, um título. E aí elas surgem, de repente, às vezes imperativas; outras, do nada absoluto, ou de algo tão longinquo que já perdeu-se na memória, mas estão aí, presentes, aos gritos.
Recentemente tomei um café com um escritor. Generoso que é, deu-me algumas páginas para ler, lá mesmo na mesa do bar. Estilo um tanto angustiante mas incisivo e seguro. Corria os olhos naquelas páginas e, de improviso, algo intrometeu-se. Não foi nenhuma menina vendendo amendoim na marginal, mas a tal epifania apareceu em forma de uma frase.

“este momento não vai ficar, pois vida não é obra de arte”.

Não sei onde a li, quem a escreveu, quem a pronunciou, e sei com certeza que não é minha. Só durante a longa caminhada que me levava para casa, percebi que, no texto do escritor, não havia um único artigo. Nessa frase também não.
Ela poderá ser tema, ou título, do meu próximo conto.