terça-feira, 10 de março de 2009

MEU MAIS RECENTE SER IMAGINÁRIO

Tenho especial carinho pelo conto "CRIANÇAS" cujo protagonista é meu mais recente ser imaginário, visto que foi baseado na vaga reminiscência de um menino que vi algumas vezes pescando no outro lado do rio na região onde passei parte de minha infância. Nunca soube seu nome, nunca ouvi sua voz. Foi só uma imagem: um garotinho loiro e seu caniço cujas iscas pareciam abrir as águas do torrente em duas pequeninas fitas espumosas que desciam entre as pedras.
A imagem andou ressurgindo na minha vida a intervalos variados e imprevistos: passar por uma ponte, sentir barulho de água, ver linguados em bancas de feira ou, inesperadamente, uma cabecinha loira virar a esquina. Enquanto eu crescia, a lembrança do menino era sempre a mesma, a mesma idade, a mesma loirice. Um dia, atraída pela foto de uma menina que não é nem parecida com a criança que eu fui, repentinamente pensei que aquele garoto também havia crescido, construido uma vida e envelhecido e em algum momento (quem sabe quando, como e se) minha própria imagem de mil anos atrás poderia ter ressurgido nele. E tive vontade de dar vida ao pequeno pescador: uma vida, um perfil, uma história. Aquele ser imaginário, hoje completa minhas lembranças infantis e gostei de ter semeado nele a vontade de transformar a garotinha daquela foto em seu ser imaginário. Quiça um dia tropeçarei num texto que me faça descobri que ele também tenha criado para mim uma vida, um perfil, uma história.

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