
-Como alguém poderá escolher se eles se diferenciam só pela cor.....
-E aqueles pinos de boliche que tem cores diferentes sim, mas também tamanhos diferentes, e estão tão mal expostos que se confundem com peças de xadrez.
Mas o que mais enraivecia os cavalinhos era aquela boneca.
-Porque ela é tão grande, tão maior do qualquer outro brinquedo: não parece ser nem brinquedo nem boneca.....
-E olha aquela mulher que vê tudo do lado de fora e não se decide a entrar.
-Porque não entra e escolhe de uma vez...
A boneca é grande demais, cabelos lisos demais, sedosos demais e compridos demais; a boca vermelha demais. E parece estar quase sem roupa. A velha senhora do lado de lá da vitrine, está intrigada e pensativa. Intrigada pela estranheza da posição da boneca; pensativa por sua memoria estar sendo posta a prova. A boneca tem um sorriso parado, quase feliz; como se estivesse pensando numa cena romântica, num salão todo vermelho, onde ela, esguia e leve, dança no futuro, abraçada a um cavalheiro desconhecido, esguio e leve.
Sim, o sorriso parece feliz mas é fixo, pintado e desenhado como para não sair do lugar. E o olhar também é fixo, sem nuances de luz.
............Era como se a boneca fosse tão grande por ter crescido junto às lembranças da velha senhora. Olhos fixos, parados, como os da Titti, depois que a menina lhe enfiara um lápis, para ver o que tinham atrás que os fazia mexer, abrir e fechar.
E fechados ficaram, quando a abandonou, como morta, bracinhos esmagados e semi-nua, entre os escombros da casa onde nunca mais voltaria a morar.