quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O PRIMEIRO BAILE

CONTO

O primeiro vestido de baile, o primeiro discretíssimo perfume, a primeira maquillage suave, os primeiros dezesseis anos de vida, cheios de ansiedades. O salão cheio de sedas e tules: branco, rosa, algum amarelo. O de Clara, o único verde. Muitas flores, flores e mais flores, nas mesas, em volta da pista, nas cinturas, nos decotes. Uma margarida branca numa fita dourada em volta do pescoço, sem jóias. Clara não tinha. E as danças, nos braços do mesmo jovem, sem trégua.

Não me deixe sentar, não quero dançar com outro....
Ele não tem namorada. Ele convidou a mim para seu baile de formatura.
Ele é o irmão mais velho de minha melhor amiga.
Em breve irá à França estudar arqueologia.
.......Será ele meu primeiro namorado.....
.......Dele meu primeiro beijo.....

Clara vinha sonhando com ele, desde o dia em que foram em bando ao cinema, onde ele fizera questão de sentar ao lado dela, segurando-lhe a mão.
Era bom dançar com ele, seguro, bonito mesmo

Quase tão bonito como papai.

Um vinho branco suave, coqueteis de frutas, tortas pequeninas, salgadas e doces, em pratos com um escudo pintado num canto, como escudo de uma realeza. Porque não? Ela sentia-se mesmo uma rainha, merecia tudo o que estava acontecendo.
Foi aí, na volta da festa, no portão entreaberto da casa de Clara: as duas mão em concha a levantar-lhe o queixo e um beijo nos lábios. Ela tinha estado esperando aquele momento....Meu Deus, e agora?...

....Vou emporcarlhá-lo com o meu batom!
E se manchar também a lapela do summer jacket?
Mas é tão doce, tão novo, tão emocionante, mais do que beijo normal.
A saliva dele tem gosto de vinho branco.
E a minha será que tem o do coquetel de morango?
Como tenho tanto tempo para pensar em tudo isso?
Um beijo é assim mesmo, dura tanto?

Devagar, estão entrando portão adentro, como para esconder-se de quem por acaso passasse, e, de súbito, impulsivo, ele se afasta enrijecido, como alguém que, de repente, está com medo. De que?
"É tarde. Amanhã te ligo e venho te buscar para ir à praia" -um curto silêncio, quase envergonhado, olhos baixos - e depois:" Eu gosto muito de você, muito mesmo, sabia?"
E sem esperar resposta, com a mão na maçaneta, ele puxou-a para si e a porta fechou-se, calada, sobre o silêncio de Clara

5 comentários:

Krystal Troyano disse...

adoro aqui!
estou seguindo, beijos!

contraditório disse...

Doce Bruninha,
vc sempre me emociona com as suas palavras delicadas e certeiras!
Adorei os coments no blog!
um beijo enorma

Dani Morisson disse...

Eu encontro assim narrado, com tamanha maestria e delicadeza, me traz saudades de um tempo que não tive a chance de viver. Texto impécável como sempre.
Beijos
Daniela

Unknown disse...

o como o combinado,mas nem sempre estou afim de falar ao telefone.Adorei o blog! parabens,tambem sou leitor do Borges,ja reli "O Imortal" n vezes,um dos meus contos preferidos.Queria seu email,ficava mais facil,sou um anafabyte total,hás de entender.Muita força e luz,saúde ! Beijo

Blog da Bruna disse...

Meu caro Rubens.....sou mais desastrada ainda com nomes....
meu e-mail: brunanehring.gmail.com
Obrigada por passar por aqui....inté