terça-feira, 23 de agosto de 2011

NA CRISTA DA ONDA - Crônica

Algo não consegue sair do noticiário, do negrito das manchetes, dos textos bem articulados dos telejornais, das conversas em todos os setores da vida urbana. Não é o nome da mais nova modelo virando atriz, nem mais um terremoto na Ásia, nem a queda do dólar ou a crise econômica internacional. É só uma palavra que parece não conseguir deixar de fazer parte do nosso quotidiano. Corrupção! A palavra é sempre a mesma. Um polvo multi-tentacular que já se instalou em tudo e que, a cada semana, redescobrimos multiplicado-se num novo setor, em mais um, mais um, mais um...Quantos foram só esse ano?
Se formos examinar essa palavra, descobrimos nela quase um prefixo: “co” como nas palavras co-laboração, co-ação etc., o que implica na intervenção de mais do que uma pessoa. Daí associarmos a corrupção ao suborno, pois no suborno alguém paga e outro recebe.
Antes tinha-se raiva da corrupção dos políticos pelo simples fato de que não tinha-se acesso às “panelinhas” que garantissem os mesmos benefícios. Mas hoje acabou-se o hábito de admirar, reverenciar e invejar a figura folclórica do "malandro" e suas estrepolias. Acabou-se o tempo do "Gerson" de levar vantagem. Mas não se consegue conter a corrupção. Pior: no processo da tentativa infiltra-se outro elemento: a impunidade.
Corrupção existe em todo mundo.Desde o bíblico prato de lentilhas, os homens se corrompem e não houve civilização por mais flórida e milenar que tenha conseguido extirpá-la. Existem porém, algumas diferenças em outras culturas perante corrupção e suborno. Vimos nos Estados Unidos, um senador corrupto enfiar um revólver na boca e suicidar-se “ao vivo”; um membro de casa real europeia (Holanda, Bélgica, Luxemburgo?..) demitir-se do cargo, pedindo publicamente desculpas por ter embolsado uma comissão sobre fornecimento de aviões e revertendo o valor a obras beneficientes.
Em contrapartida nossos homens públicos criam CPIs que levam anos para serem julgadas até a extinção do prazo legal e, no ínterim, os investigados continuam embolsando seus ricos soldos que não devolverão, mesmo que acabem considerados culpados. E quase nunca o são.
Ao mesmo tempo em que políticos, ministros, e até jornalistas e economistas tentam vender sua profissão como uma cruzada em defesa da honestidade, o povo está finalmente começando a dar-se conta de que pode, e deve, exigir honestidade e transparência.
Parece-nos então lógico e desejável porém, que ele – o povo - , enfim nos, também tenhamos que assumir nosso próprio compromisso de não ceder à “corrupção pessoal”, aquela que exercemos abrindo mão de princípios, consciência e respeito próprio. É – por exemplo – o pai que consegue um falso atestado de saúde que isente seu filho do serviço militar; é a filha do coronel, que junta escova e procria sem casar-se para poder beneficiar-se da lei que lhe permite continuar a receber a aposentadoria do pai, enquanto for solteira. Nos dois exemplos as pessoas não deixam de colocar-se num legítimo direito legal que, porém, não lhes oblitera a má fé e a desonestidade.
Está portanto na hora – e nas nossas mãos – resgatar a honra, punindo sim a corrupção, mas também abstendo-se dela.

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