Tem um rosto tão bonito esse
garoto.
Garoto? Não, seguramente uns
vinte oito, trinta anos. Mora em algum andar acima do meu: está já
no elevador quando desço e, se por acaso voltamos juntos, eu antes
dele. Cumprimenta sempre, assim, sem abrir a boca, um leve sinal
da cabeça, um sorriso apenas, apenas esboçado, mas com as pontas
laterais curvadas para cima, portanto jeito alegre.
Apesar de sempre estar de terno, gravata e pasta profissional, é rebuscadamente moderno, cabelo quase raspado, mas com uma espécie de crina rígida, feito crista de galo, que ele controla com o rabo do olho no vasto espelho do elevador, às vezes corrigindo-lhe uns fios. E sempre calçando tênis dos mais variados modelos e cores. Estranha combinação, não é, mas assim mesmo lhe confere uma classe inesperada; parece um requinte incoerente, entretanto é justamente isso que, depois da primeira surpresa, cria uma espécie de admiração.
Apesar de sempre estar de terno, gravata e pasta profissional, é rebuscadamente moderno, cabelo quase raspado, mas com uma espécie de crina rígida, feito crista de galo, que ele controla com o rabo do olho no vasto espelho do elevador, às vezes corrigindo-lhe uns fios. E sempre calçando tênis dos mais variados modelos e cores. Estranha combinação, não é, mas assim mesmo lhe confere uma classe inesperada; parece um requinte incoerente, entretanto é justamente isso que, depois da primeira surpresa, cria uma espécie de admiração.
O que faz com que um jovem
advogado, funcionário público, de escritório, ou bancário - quem
anda engravatado hoje em dia?... - possa sentir-se arrumado sem usar
sapatos convencionais? Não deve ser por economia levando em
consideração o preço dos tênis e a ampla coleção do rapaz.
Jovem demais para cuidar de incômodos joanetes. Disfarçadamente já
caminhei propositalmente atrás dele para ver se por acaso tinha
algum defeito, mas ele parece pisar corretamente e com segurança.
Sinto-me uma verdadeira
intrigante bisbilhotando as esquisitices alheias, entretanto não
considero meu vizinho esquisito. Ou estou me comportando como a
avestruz do zoológico que, através do vidro do carro, olha direto
para nós como uma velha curiosa admirando algo desconhecido?
É, isso aí. Sou a velha curiosa que admira um hábito desconhecido.
Preciso perguntar à minha sobrinha neta que tem trinta anos: ela
seguramente desvendará o mistério e vai rir de mim...
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