quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A GUERRA ESTÁ DECLARADA - Resenha

Título original: La Guerre Est Déclarée
França 2011
Diretor: Valérie Donzelli

Um filme realista, minimalista, sincero. E poético.

Surpreendente e, creio, inédita sua façanha: a história real é levada às telas pela diretora e pelo roteirista que a viveram juntos, e de que também interpretam as personagens.
Valérie Donzelli e Jérémie Elkaïm se depararam na vida real com uma guerra que, ao ser declarada, teve que ser ganha a cada instante, a cada dia, a cada noite, a cada semana, a cada mês, a cada ano.
A metáfora do título é integrada ao diálogo num momento em que, por mais difícil que possa ter sido, foi repensada e enfrentada por um caminho de humor que, começando no amargo mais profundo, transforma-se em esperança e em quase serenidade.
Pieguice: em nenhum momento. É o ritmo da filmagem que, eliminando a maior parte dos detalhes, leva à ofegância do espectador que participa da ansiedade, da preocupação, da esperança, sem jamais perder os momentos poéticos. É bem verdade que o fundo musical ajuda o público a preparar-se para uma abertura emocional que o distancia da tragédia e o eleva à admiração técnica que lhe é servida numa bandeja de pura capacidade pictórica simplificada.
Não vai diminuir o interesse do leitor saber desde já que trata-se de um casal destinado a acompanhar, lutar e desgastar-se no combate contra uma gravíssima doença de seu filho. O importante é digerir sem lágrimas esse combate, intercalado de pequeníssimos toques, com uma indulgência super bem medida, em que a vida é vivida, deve ser vivida e deve continuar a ser vivida, pois é dessa obstinação que surge a força da sobrevivência.
A simplicidade com que os pais - a revelia dos médicos, e antes da cirurgia - levam o menino para ver o mar pela primeira vez, nos traz uma comunhão, melhor, uma cumplicidade quase infantil dos dois adultos. O mar invernal, revolto e batido contra as falésias de Marselha enfatiza a ousadia, e é nela que se concentra a determinação da fragilidade já descartada.
Mais uma vez a imagem do mar volta na cena final do filme. Desde os primórdios do cinema realista francês, o mar tem sido usado como a imagem reveladora da libertação. Foi assim no “Os incompreendidos” de Trouffaut (não a toa ele iniciou-se ao lado de Rossellini e admirava Fellini que também usou o estratagema em seu “O Sheik branco”); foi assim no “O demônio das onze horas” de Goddard e, em clara homenagem aos mestres anteriores, assim foi no “Abril despedaçado!” de Walter Salles, que coloca o rapaz perante uma bifurcação escolhendo o caminho do mar.
Valérie Donzelli termina colocando seus personagens numa praia agora mais tranquila apesar de ainda não ensolarada: o armistício promissor numa guerra bem enfrentada, onde o título desse filme imperdível reaparece na sua última imagem sem ser pronunciado e justifica plenamente sua escolha.

Um comentário:

Sandra Schamas disse...

com essa resenha, bruna, dá mesmo vontade de sair correndo e ir ver o filme. Ótimo!
bj san