terça-feira, 19 de junho de 2012

DEUS DA CARNEFICINA - Resenha de Filme

Título original: Carnage ---
 Produção: França/Alemanha/Polônia/Espanha 2011 ---
Direção: Roman Polanski sobre peça de Yasmina Reza---
Cast: Jodie Foster, John Reilly,Kate Winslet e Christopher Waltz

Yasmina Reza, dramaturga francesa de origem iraniana, é especialista em discussões e bate-bocas. Assisti sua primeira peça “Arte” em Paris há muito anos e voltei entusiasmada pela agilidade dos diálogos, o sarcasmo das argumentações e a habilidade com que ela consegue que uma frase revele o caráter da personagem. Quando a peça foi montada em São Paulo, carreguei um grupo de amigos com entusiasmo. Pode ter sido por tradução, produção, direção, cenografia ou interpretações, não sei, mas acabamos vendo uma peça desastrosa e desastrada apesar de bons nomes em cena. Toda a sagacidade do texto havia sumido.
Quando li o nome do Polanski na adaptação para o cinema de outra peça teatral da Yasmina Reza, corri para assistir. E saí feliz.
Sou fã incondicional do Polanski desde sua “Faca na água”, tentei nunca perder um filme seu, e sempre considerei “Rosemary's Baby” sua obra menor apesar do estrondoso sucesso. Aqui em “Deus da Carneficina” existe um matrimonio definitivo entre texto e direção. Raro de acontecer. Ao entrar no cinema ainda tinha na memória a construção visual arrebatadora de seu filme anterior,  “Ghostwriter”: as nuances dos seus cinzas, o sopro daquele vento que invadia de folhas a tela inteira, as enormes paredes de concreto nu de uma casa pra lá de futurista e obras de arte cujas cores gritavam por aplausos.
Em “Carneficina” aqueles espaços a perder de vista encolheram: tudo concentrou-se em quatro paredes como manda o bom teatro. Mas o fluir das paixões, todas as paixões, as recolhidas e as vomitadas, as contidas e as gritadas, as “sorridas” e as “choradas”, invadiram cada canto da cena, voando janelas afora até atingirem em cheio as faces da plateia.
Não preciso contar detalhes, nem relatar razões para tantas digladiações.
É filme para se ver, com atenção, com tensão mesmo. Não vai ficar muito tempo em cartaz, pois o publico não gosta de ser esbofeteado.

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