quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O NUNCA e O AGORA


Nunca havia-me feito a pergunta.
Agora já tenho a resposta.
Devo à História Íntima da Leitura, às outras dezessete pessoas  com que partilhei a aventura do livro, à Editora Vagamundo e, precipuamente, a Fabiana Turci que teve a idéia de registrar os depoimentos de cada autor.

Foi justo aquele DVD que me deu a resposta antes mesmo que eu tivesse-me perguntado: como será que os outros me vêem? pois me vi como nunca antes havia-me visto. Foi uma descoberta.

Hoje sei que a musculatura do meu rosto tem  trejeitos  instintivos que revelam a intenção de uma palavra ao mesmo tempo em que ela brota dos lábios. Há o olhar malicioso acompanhando uma frase que embute , e só embute, um sarcasmo. Há o bufar real e visível ao calcular rapidamente a quantidade de anos que se passaram. E há o acompanhamento da mão que dá leveza – ou peso – a um conceito já mentalmente presente, cujas palavras ainda estão sendo garimpadas.
Mas também há as rugas, a flacidez, o vagar do olhar pesado pelos anos de buscas, de encantos e prazeres, de emoções e lágrimas, de conquistas e derrotas. E de saudades.
Pura embalagem.
O mais edificante é justamente isso: todo o deletério do visual é só embalagem para um conteúdo que parece-me ainda seguir a lógica do seu fio condutor. Conteúdo que sei ser consciente, vibrante , sincero. E ainda válido.

Afinal esta aparência atual não me magoa nem me incomoda. Tenho até certo orgulho dela. Ela é toda minha, sem subterfúgios. E me lembra do que uma vez Anna Magnani recomendou aos fotógrafos numa de suas últimas entrevistas:
“Não retoquem minha imagem, sobretudo não me tirem as rugas: as consegui a duras penas, as conquistei uma por uma”.
Ela tinha toda razão.
São minhas medalhas.


3 comentários:

Anônimo disse...

Bruna, minha querida,
não cheguei sequer a intuir, ao propor essa "brincadeira", que pudéssemos colher esta espécie de espelho retorcido, esta miragem. sabia do quanto queria escutá-los, vê-los sendo e pensando na minha frente, mas também eu tive o presente dessa experiência que é a alteridade. e não só esta visão de si, mas o reconhecimento de si no outro. queria compartir, mais uma vez, essa experiência de encontro, mas também agradecer - e nunca o bastante - pelo privilégio de ter você neste projeto tão afetivo e, mais ainda, de ter você em nossa vida. obrigada, querida, pelas palavras trocadas e caladas, pelos silêncios, pelos encontros.
um beijo,
f.

reginamendola disse...

Bruna,
emoções novas me deixaram seu texto. É belo.

maría cecilia fernández uhart disse...

Querida Bruna,

Bom Dia! Acordei com teu conto...

Só hoje pude ler o teu conto, em “historias intimas”e te escrevo pra dizer que ele me fez chorar. É bem verdade que estou naqueles dias, em que a sensibilidade fica ainda mais aguçada. Me emocionei por que o achei sublime. Algo que enleva. Chorei por que vi vc nele, e senti saudades, por que nele transparece a tua generosidade que conheço bem.

Como vc tenho "a” estante. Hoje participo de dois clubes de leitura e sempre pego meus livros na Biblioteca, só depois que os leio é que decido se vou comprá-los. Alguns que compro nem tiro da embalagem, e qdo chega um aniversário, não raro, dou de presente.

Guardo mais os de poesia (que sempre me dá vontade de reler), ou aqueles, que marquei frases, que parece que precisam ser relidas. E aqueles como teu Ulysses, que ainda não li.

Nem sei dizer o quanto gosto de vc, mas não é isso que me faz gostar de “Ulysses e eu”, é por que vc sempre surpreende. Vc escreve muito bem! No seu conto o livro é o personagem que transita nas mãos, que faz companhia, que sente ciúmes e privilégios.

Mando nossa foto, caso vc não a tenha visto.

A minha cara feliz é por estar pertinho de vc.

Um beijão.