quarta-feira, 20 de maio de 2009

"FORMANTE INICIAL" (Galáxias de Haroldo de Campos) e a INTERTEXTUALIDADE

Considerações pessoais

No texto abordado a intertextualidade revela-se em facetas diferentes: na constante perseguição das palavras, no entrelaçamento de sílabas criando outras palavras, no alcançar novas palavras, e novos significados, por associação de idéias. É a intertextualidade cerebral, teórica, prática, literária mas também matemática e mecânica. Quase um exercício acrobático que, como toda acrobacia requer ritmo, cálculo, precisão e concentração impecáveis.
Uma formula inteligente, criativa, rebuscada e ao mesmo tempo lúdica, divertida. E trabalhosa, muito trabalhosa. Quase tão trabalhosa quanto a leitura do texto que, se feita com paciência e dedicação, faz sentido e revela consistência. Poderia ser um compacto de estórias diferentes cuja ligação vem da faceta “associação de idéias”.
A formula, mais do que prosa, corre paralela, mas bem rente, à poesia pelo compasso e pela volatilidade, que são mais próprias, mais frequêntes e até mais aceitas no gênero poético. Pareceu-me um ensaio, um estudo inovador de construções literárias e poéticas; assim mesmo, um ensaio. Apesar de arrojado, não creio que Haroldo de Campos, viesse a adotar esse estilo de forma permanente e contínua, mesmo que ele não substituísse nem renegasse o de sua obra anterior.
Alias é possível que essa formula pertença a uma fase mundial de renovação, um movimento novo mas não definitivo e nem substitutivo, assim como houve o "descontrucionismo" na pintura, escultura e arquitetura que, porém, não obliterou a existência, com louvor, dos estilos tradicionais anteriores. Mas nada foi como antes.
É certo, porém, que do movimento que Haroldo de Campos fundou na nossa literatura, nasceram questionamentos viscerais e alterações poéticas ainda em progresso.
A estrutura do texto, por uma questão de ousadia, de riqueza de palavras, de alusões, sinônimos e antônimos, remeteu-me àquilo que considero uma obra prima da musica brasileira, erudita ou não – mas nesse caso específico considero fortemente erudita – que é a “Construção”, de Chico Buarque de Holanda. Não somente as imagens descritas, palavras e versos tem intertextualidade entre si, mas elas interagem com a composição musical que, por sua orquestração primorosa no ritmo de mercado persa, nos empurra à realidade do caos, do trânsito, dos ecos, da vida – e da morte – das metrópoles.

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