quinta-feira, 10 de julho de 2008

As Chaves

Miniconto


“Já que você prefere ficar com o Corsa, poderia me trazer o Fiesta aqui no flat onde estou? Desculpe pedir, mas acabo de conseguir uma entrevista para um emprego importante e não daria tempo de ir até aí para pegar o carro”
“Tá, Jaime, já estou indo. Mas vou deixá-lo na porta com o manobrista. Está bem?”
“Sim, sim, obrigado mais uma vez, desculpe”
Marta desligou e correu para a bolsa: chaveiro com cavalinho é do meu Corsa; chaveiro com chapéu mexicano, do Fiesta.
Estranho. Setenta e duas horas atrás tudo estava bem e agora o Jaime já se mudou daqui, levou toda a roupa e eu estou só.
Divorcio? Separação? O que está acontecendo?
Por uma briguinha que parecera a toa. É assim que acabam os casamentos?
Chegou na garagem, entrou no Fiesta, arrancou da bolsa o chaveiro errado. Jogou no banco ao lado, procurou às cegas o chapéu mexicano e deu partida.
Na avenida as árvores pareciam não saber de nada, o trânsito era o mesmo de sempre. Nada parecia mudado e portanto tudo estava mudado.
Chegou em frente ao flat, o manobrista correu ao seu encontro.
Marta entregou as chaves pela janela e avisou: “É para entregar ao Jaime Ferris do 301. Pode chamar-me um táxi por favor?”
Ao agarrar a bolsa no banco ao lado, viu o chaveiro de cavalinho de prata brilhar sobre o couro escuro do assento. Pegou, pensou um instante. Voltou a jogar no mesmo lugar.
Não pode tudo terminar assim.
Quem sabe?..

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