quinta-feira, 25 de novembro de 2010

RUBENS SABOYA, escultor. Velho amigo



Escultor de deuses e heróis. Bronzes imponentes cujo peso do metal é menor do que a força de suas formas.
Amigo antigo, é sabedor da admiração que lhe tenho. E não só pela qualidade e importância de suas obras, mas principalmente pelo intrínseco que são os sentimentos dele que elas escondem: sensibilidade, contemplação, ascetismo.
Aqui a prova nas poucas linhas que me mandou por e-mail outro dia, assim como vieram:
Oi, Bruna! Você me deixa feliz quando nos falamos. Bom resumo, né? Sou meio troglodita com o pc e web; pra complicar minha conexão anda como um jabutí. Mas vou me virando. Mandei procê um arquivo, igual ao que tem a Rosana. Estou decidido a voltar pro Rio, a despeito daquele calor africano. Ainda tenho dúvidas do que fazer com meu sitio. O fato é que estou apaixonado pelo jardim, e jardim significa também pessegueiro cheio de frutos, filhote de passarinho cantando num ninho em cima da minha janela, pássaros (muitos, de todo tipo, coisa de louco), sapos, borboletas, pirilampos, céu estrelado, sol entrando na cama de manhã com direito a arco iris às trés e meia da tarde. Também o som que faz o bambuzal quando passa o vento: uma criatura de fazer inveja de tão bela e sonora. E o rumor do rio espremido entre as pedras...
Não vou a São Paulo há dez anos, um absurdo. Quando for, iremos nos encontrar e tomar um café num lugar bacana com a Rosana. Tá legal?
Vou mandar também um arquivo com vinte fotos via web prati. Esse "prati", que saiu sozinho por vontade própria, parece Tupy, né? Me avise se receber, pois tenho cá minhas dúvidas...
Muitas saudades, beijos miiiiiiiiiiiiil !
O que eu posso responder a tamanha maravilha? algo simples e talvés lacônico:
no pc e web eu também sou troglodita, mas consegui tudo o que você mandou e tudo o que eu queria do seu curriculum e de seu espirito. O ponto alto do seu texto, além da poética, é a palavra "rumor", que ninguém usa mais e sempre substitue por aquele vazio "barulho" por que ninguém se dá conta de quão altissonante e onomatopáico o "rumor" é!
Até nosso proximo café por aqui. Beijos Bruna.
PS. Quis publicar também uma das fotos do seu sítio no fim de todo esse texto e não consegui!
Vc viu? não é só vc ruim de computação...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ENFIM, VIDA

Para Cecilia: a serenidade em pessoa...


--Gosto muito de você, Martha, como uma irmã...
--Então, André, por favor, não me dê mais carona quando me vê no ponto do ônibus; não me chame mais para consultar textos de arquitetura; não queira me levar para casa na saída da faculdade...nunca poderia ser sua irmã...

Pé no chão, engolindo em seco. Eu sabia da Júlia, a namorada já de muito tempo do André. Até considerava-me melhor que ela em muitas coisas, mas não tinha por que agredir-me, anular-me, esperar mais.
Havia aprendido com André a amar o mar e a vencer-lhe o medo; havia descoberto nele um homem aplicado, eficiente (...quem consegue trocar linda e limpamente um pneu em poucos minutos e ainda com um sorriso radioso?...); atencioso, sociável, generoso (...distribuir aos colegas de turma, com carinhoso tom de brincadeira, uns ovinhos despretenciosos junto com um abraço e votos de Boa Páscoa...); e quem esbanja na praia tamanho corpaço com tanta simplicidade e modéstica como fosse um atleta invisível?...
Quantas vezes havia-me arrependido de ter cortado o contato para não sofrer. Quantas vezes havia esperado que ele se reaproximasse dando-me uma chance de conquistá-lo... Muitos meses e um sonho a ponto de ser jogado numa gaveta junto com as bijuterias passadas de moda.
Bastou um telefonema.
Aí é que a memória esconde-se nas águas mornas e placidas de um lago tão azul, tão sempre iluminado, que o arco-iris passou a ser paisagem permanente.
Parece uma história tão simples, tão corriqueira. O sonho dourado de todo sonho de amor: conseguir e conquistar para sempre aquele que havíamos considerado inatingível, perdido.

E agora, a caminho de nossa casa de praia, parados na estrada, com meu menorzinho no colo, dou um jeito de acariciar, no banco traseiro, a cabecinha morena de Tomás e, na reconstrução de uma cena longinqua mas ainda viva e vibrante, lhe digo:
"Vai lá Tomasinho, vai ver como um homem bacana como o papai consegue trocar um pneu sorrindo e quase sem sujar as mãos..."
Ele vai e eu fico: a outra metade da família confiante.
À noite estaremos todos em casa, só com o barulho do mar e o chiado da espuma contra o casco do barquinho.
Amanhã é dia de catar conchas, de fazer castelos de areia, de aprender a remar.
De viver.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PARA FLAVIA........

A NOVA NETINHA DA SANDRA, A QUEM DEDICO ESTE CONTO DE CRIANÇAS, QUE UM DIA A VOVÓ LERÁ PARA ELA E ACABARÁ FALANDO DE MIM....

"O narizinho de Clarinha"
Clarinha está na frente da televisão: já fez a lição de casa e já arrumou os brinquedos no seu quarto. Acaricia o pelo encaracolado de Bilíu, o poodle cor de pêssego, acocorado no seu colo, focinho para cima, olhando para ela.
Clarinha começa a correr os canáis procurando o desenho animado que vê todos os dias naquele horário. Seis anos de pura educação, obediência e tranquilidade.
--"Clarinha, a gente não limpa o nariz com o dedo!"
A mãe entra e sai da sala, arrumando coisas, regando plantas, sempre atarefada.
--"Clarinha tira o dedo do nariz!"
No vídeo, a princesa colhe flores.
--"Clarinha, pelo amor de Deus, você sabe que isto não se faz. Será possível que todos os dias devo repetir dezenas de vezes tira o dedo do nariz? Pare de tirar melecas!"
E Clarinha, enquanto a mãe sai da sala:
--"Mas mãe, Bilíu adora..."