sábado, 28 de fevereiro de 2009

LUIZ ANTONIO DE BRITO- POETA E AMIGO

Ele é colega de turma na Casa das Rosas há muitos "escrevivendos".
Se define: Insensato, sonhador, eterno menino carente,
pé no chão, careta, troglodida urbano, pseudo poeta.
Para mim: amigo, comunicativo, exemplo de atenção e carinho com todos.
Extrovertido, prega e esbanja sinceridade por todos os poros. Publicou
recentemente alguns poemas, no "Mosaico", e o que transcrevo aqui
é de longe o melhor do livro inteiro. Veja você como deixou para traz aquele
pseudo.....
"ALFARRÁBIOS"
Nuvens broncas passeiam no círculo
almas habitam estantes e prateleiras
milhões de palavras e pensamentos
desvirginando páginas encadernadas
penetrando tímpanos divididos
corroendo veias entupidas de letras
olhos curiosos procuram títulos tortos
verticalmente opostos
mãos ávidas passam folhas
de desenhos sórdidos
líricos científicos ou pornográficos
ficam rodando perdidos
de repente a luz
o tesouro finalmente encontrado
no mar filosófico
não precisa embrulhar
vou começar minha viagem agora.


Aliás, Luiz Antonio:você não é pseudo em nada!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

BREVE RESENHA DO LIVRO "THE DYING ANIMAL" - ANIMAL AGONIZANTE

E DO FILME "FATAL". Adaptação, roteiro e direção: ISABEL COIXET
O livro de Philip Roth, na esmerada tradução de Paulo Henriques Britto resultou num metafórico tratado sobre a vida. O protagonista, David, é um atleta sexual, sexagenário e esteta. O livro não é uma estória , apesar de contar uma: é um monólogo sobre a morte e o morrer. Sobre a vida, a juventude, a velhice: de como os jovens encaram, olham e classificam os velhos. De como os velhos encaram, olham e classificam os jovens. David vive tentando convencer os outros - amigos "velhos" como ele, e "jovens" como seu filho e sua própria amante Consuela - a viver o dia a dia, assim como ele vive: em cada conquista , em cada novo corpo como se o melhor fosse sempre o próximo. Durante o livro inteiro ele passa longe do amor , como se fosse uma degradação do belo. E, como para reafirmar seu propósito de vida, ele renega a realidade até o fim do livro: a de ter sido levado ao amor, por Consuela. Mas o amor a que é levado atravessa o livro como uma lança de cuja haste ele quer camuflar, cancelar, fraudar suas digitais. É a agonia dele , David , antes e mais do que a de Consuela.


A roteirista e diretora do filme "Fatal", baseado nesta pequena obra-prima filosófica de Roth, acertou em trazer a tona o nome de Goya no lugar do Brancusi e Velásquez que David menciona no livro: a atriz Penélope Cruz o provocou para isso, pela forma como ela - uma Maya inspiradissima numa sequencia quase timida mas avassaladora - despe os seios e procura a pose ideal para dar-lhe s o formato mais perfeito. Gestos lentos , às vezes inseguros , outras decisivos; seu rosto entre o orgulho e a humildade, seus olhos prescrutando as formas em despedida. Aliás o grande trunfo do filme é esta atriz jovem e talentosa que desfila sua extraordinária maturidade artística, ao lado, e em igualdade total, do já consagrado Ben Kinsley: impossível imaginar outra atriz em seu lugar que não viesse a ser tragada por ele; em inúmeras sequencias ela mostra sua capacidade de expressar-se com um simples olhar, com o esboço de um sorriso, ou um leve movimento de qualquer parte de seu corpo. Sua inflexões vocais transmitem irrepreensivelmente as intenções: que nunca sejam dubladas!... De novo o roteirista modificou alguns detalhes do filme - por exemplo, o filho de David, médico e não restaurador - e foi bastante seguro em dar um final bem definido, quando no livro ele ficará ao bel prazer do leitor. Não foi questão de bilheteria, nem de pieguismo, pois a diretora seguramente o teria evitado, como o evitou, mas uma questão de entendimento e de aceitação. O que é solução para o leitor , não o é para o público que admira - e está pronto a perdoar - quem admite seus erros, quem se oferece para dar o braço a torcer, quem cumpre com o pregado por qualquer religião: "expiar". Dificilmente qualquer espectador aceitari a o distanciamento por preservação ou por respeito a si mesmo. O livro continua sendo um livro de filosofia antes de ser sobre sexo, amor ou comportamento, mas esses últimos ingredientes completam sua missão em levar o leitor a um exame de suas mais íntimas reflexões. Em qualquer idade.