terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

BREVE RESENHA DO LIVRO "THE DYING ANIMAL" - ANIMAL AGONIZANTE

E DO FILME "FATAL". Adaptação, roteiro e direção: ISABEL COIXET
O livro de Philip Roth, na esmerada tradução de Paulo Henriques Britto resultou num metafórico tratado sobre a vida. O protagonista, David, é um atleta sexual, sexagenário e esteta. O livro não é uma estória , apesar de contar uma: é um monólogo sobre a morte e o morrer. Sobre a vida, a juventude, a velhice: de como os jovens encaram, olham e classificam os velhos. De como os velhos encaram, olham e classificam os jovens. David vive tentando convencer os outros - amigos "velhos" como ele, e "jovens" como seu filho e sua própria amante Consuela - a viver o dia a dia, assim como ele vive: em cada conquista , em cada novo corpo como se o melhor fosse sempre o próximo. Durante o livro inteiro ele passa longe do amor , como se fosse uma degradação do belo. E, como para reafirmar seu propósito de vida, ele renega a realidade até o fim do livro: a de ter sido levado ao amor, por Consuela. Mas o amor a que é levado atravessa o livro como uma lança de cuja haste ele quer camuflar, cancelar, fraudar suas digitais. É a agonia dele , David , antes e mais do que a de Consuela.


A roteirista e diretora do filme "Fatal", baseado nesta pequena obra-prima filosófica de Roth, acertou em trazer a tona o nome de Goya no lugar do Brancusi e Velásquez que David menciona no livro: a atriz Penélope Cruz o provocou para isso, pela forma como ela - uma Maya inspiradissima numa sequencia quase timida mas avassaladora - despe os seios e procura a pose ideal para dar-lhe s o formato mais perfeito. Gestos lentos , às vezes inseguros , outras decisivos; seu rosto entre o orgulho e a humildade, seus olhos prescrutando as formas em despedida. Aliás o grande trunfo do filme é esta atriz jovem e talentosa que desfila sua extraordinária maturidade artística, ao lado, e em igualdade total, do já consagrado Ben Kinsley: impossível imaginar outra atriz em seu lugar que não viesse a ser tragada por ele; em inúmeras sequencias ela mostra sua capacidade de expressar-se com um simples olhar, com o esboço de um sorriso, ou um leve movimento de qualquer parte de seu corpo. Sua inflexões vocais transmitem irrepreensivelmente as intenções: que nunca sejam dubladas!... De novo o roteirista modificou alguns detalhes do filme - por exemplo, o filho de David, médico e não restaurador - e foi bastante seguro em dar um final bem definido, quando no livro ele ficará ao bel prazer do leitor. Não foi questão de bilheteria, nem de pieguismo, pois a diretora seguramente o teria evitado, como o evitou, mas uma questão de entendimento e de aceitação. O que é solução para o leitor , não o é para o público que admira - e está pronto a perdoar - quem admite seus erros, quem se oferece para dar o braço a torcer, quem cumpre com o pregado por qualquer religião: "expiar". Dificilmente qualquer espectador aceitari a o distanciamento por preservação ou por respeito a si mesmo. O livro continua sendo um livro de filosofia antes de ser sobre sexo, amor ou comportamento, mas esses últimos ingredientes completam sua missão em levar o leitor a um exame de suas mais íntimas reflexões. Em qualquer idade.

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