terça-feira, 29 de setembro de 2009

DIA DOS AMIGOS ON LINE.....quem inventa....

.........não sei, mas sei que recebo mensagens amistosas, carinhosas e, muito frequentemente reveladoras...
A todos os amigos e amigas, que sejam, ou não, on line, meu abraço sincero, ON LIFE

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

CARTA A UMA AMIGA

Querida Karen,
hoje me dei conta de que faz pouco mais de um ano que recebi de presente, de você, o meu blog! E que desde então, já estão lá quase sessenta títulos. Quanto devo a você?
Muuuuuuito, quase tudo. E porquê não tudo?
Por que me aventurei em outras oficinas, obedeci outros raciocínios, quis apanhar com outras críticas, e outros críticos. É como se, inconscientemente, eu estivesse grudando em mi mesma, com cera virgem e à moda de Ícaro, asas de pássaros inauditos, diferentes, vindos de outros continentes.
Se soubesse cantar, eu diria que seria uma vocalista que larga a banda, de quem muito aprendeu , para lançar-se em carreira solo. Mas não é bem assim: ainda tenho um longo caminho a percorrer, antes de me sentir segura para conversar sozinha e sozinha aprovar minha assinatura.
Mas sei que você acompanha meus textos e estou certa de que, mesmo em momentos de crítica atroz, você saberá ouvir minha voz, como agora.
Portanto, obrigada.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

JANTAR COM MIMI

Miniconto

Com deferência, o segurança abre a porta; a vendedora, um sorriso. Mulher classuda aquela: grifes da cabeça aos pés, porte de rainha.
Um “Caleche”, por favor...não, não, extrato...Obrigada! Ah, sim, posso ver o fular da vitrine?” Seda preciosíssima, desenho exclusivo. Mil e quinhentos no cartão. A sacolinha é um luxo.
A caminho de casa, entre mais vitrines convidativas, calcula mentalmente o saldo negativo do banco e dos cartões. Até Augusto, ontem, se mandou de vez...que fazer! Há dias não fala com o filho Antonio em Curitiba. Ele poderia mandar algum...
Agora, em frente à geladeira vazia, um miado e o pelo macio acariciando seu tornozelo. “Vamos fofinha, nosso leite dá para dois”.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

BRIOS -- Microconto

Tarde gelada, halitos visíveis, echarpes ao vento. As pessoas que passam por ela fingem não notá-la. Mas Júlia sabe.
Vê-se refletida na vitrine da confeitaria, cabelos livres, olhar seguro.
Apesar da cicatriz que lhe deforma o rosto numa perene careta de escarnio, sente-se linda: a coragem de ter sido ela a dizer adeus, fizera toda a diferença.

FODA-SE -- Miniconto

“Posso sentar-me à sua mesa?”
Foi assim que se conheceram. Uma química veloz os reúne sempre no mesmo café. Ela, sóbria e elegante, entre entrevistas, a procura de emprego. Ele, esportivo, corrente de prata sobre relógio vistoso, aparentemente sempre a toa.
Ela Marta, ele Domingos. Que nome antiquado, suburbano...mas tem o olhar sempre em busca de uma fresta de decote e um jeito especial de tocar em xícaras e croissant. Mais do que uma vez, Marta sentiu os mamilos, veementes, debaixo da seda.
Indefectível, um dia veio o convite. “Faço um omelete imbatível. Janta comigo?”
Carro um tanto velho mas limpo e incrementado. Estaciona num supermercado: “Um vinhozinho...Me espera um instante?”
No porta-luva aberto uma revista a convida, e lá está seu horoscopo: “Ótimas perspectivas de contratação às quartas. Cautela aos sábados. Domingos perigosos”.
Assustada, hesita. Mas lá vem ele com aquele sorriso. A seda lhe aperta querendo estourar a camisa. Ela, decisa, com uma mão atira a revista ao banco de traz e com a outra, vagarosamente, começa a soltar os primeiros botões num gesto definitivo.

PS- já mudei o título duas vezes: fica este mesmo, que era o original, apesar do espanto de muita gente

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

EPILÉTICO, conto criado para a oficina de Marcelino Freire

-disto se morre?
-Tomando remédios, posso sentar e escrever bastante mesmo depois da lição de casa?
-meus colegas da escola vão ter que saber?
Sentado à escrivaninha, o menino estava angustiado. Na escola percebia que o achavam diferente por preferir estudar do que brincar e zombavam de sua cultura precoce.
O médico havia tentado tranquilizar a mãe que estava apavorada. Mas tinha receitado muitos remédios, e feito mil recomendações. Estar alerta quando começasse a sentir comichões e zumbidos. Seria normal, em hora de crise, ver sumir as cores ao seu redor. E seria bom que tivesse alguém por perto naqueles momentos. Mas também tinha dito que muita gente famosa sofria disto e, “se ficou famosa é porque viveu bastante, não é meu garoto?”
Agora, enquanto a pena continuava tropeçando e espirrando tinta em volta das palavras que lhe surgiam incontroláveis, tentou lembrar os nomes dos escritores que o médico havia mencionado. Será? correu às enciclopédias e, sim, realmente Dostoievski e Flaubert tinham morrido aos sessenta anos. Sessenta anos é uma idade respeitável.
-posso escrever muito até ter sessenta anos!
A pena acelerou suas ranhuras sobre o papel rústico: linhas e mais linhas a criar cenas, personagens, conflitos. Rápido. Pois sabia que a qualquer momento poderia ser interrompido. Foi justo então: o rosto triste da mãe aparecer na porta.
-Venha Joaquim: o almoço está na mesa.

PS ---- Conto surrealista: propositalmente quis induzir o leitor a imaginar tratar-se de Machado de Assis criança, quando isto é impossível: os três escritores foram todos epiléticos mas praticamente coetâneos.
Dostoievski -1821-1881
Flaubert -1821.1880
Machado de Assis - 1839-1908