Nunca
havia-me feito a pergunta.
Agora
já tenho a resposta.
Devo
à História Íntima da Leitura, às outras dezessete pessoas
com que partilhei a aventura do livro, à Editora Vagamundo e,
precipuamente, a Fabiana Turci que teve a idéia de registrar os
depoimentos de cada autor.
Foi
justo aquele DVD que me deu a resposta antes mesmo que eu tivesse-me
perguntado: como será que os outros me vêem? pois me vi como nunca
antes havia-me visto. Foi uma descoberta.
Hoje
sei que a musculatura do meu rosto tem trejeitos instintivos que revelam a intenção
de uma palavra ao mesmo tempo em que ela brota dos lábios. Há o
olhar malicioso acompanhando uma frase que embute , e só embute,
um sarcasmo. Há o bufar real e visível ao calcular rapidamente a
quantidade de anos que se passaram. E há o acompanhamento da mão
que dá leveza – ou peso – a um conceito já mentalmente
presente, cujas palavras ainda estão sendo garimpadas.
Mas
também há as rugas, a flacidez, o vagar do olhar pesado pelos
anos de buscas, de encantos e prazeres, de emoções e lágrimas,
de conquistas e derrotas. E de saudades.
Pura
embalagem.
O
mais edificante é justamente isso: todo o deletério do visual é só
embalagem para um conteúdo que parece-me ainda seguir a lógica do
seu fio condutor. Conteúdo que sei ser consciente, vibrante ,
sincero. E ainda válido.
Afinal esta aparência atual não me magoa nem
me incomoda. Tenho até certo orgulho dela. Ela é toda minha, sem
subterfúgios. E me lembra do que uma vez Anna Magnani recomendou aos
fotógrafos numa de suas últimas entrevistas:
“Não retoquem minha imagem, sobretudo não
me tirem as rugas: as consegui a duras penas, as conquistei uma por
uma”.
Ela tinha toda razão.
São minhas medalhas.