quarta-feira, 20 de maio de 2009

BLASÉE

Miniconto inspirado no microconto de Adriana Falcão:
"Alí deitada, divagou:
se fosse eu,
teria escolhido lírios

Adorada, sim.
Roupas espalhadas pelo chão, estojo Tiffany numa mesinha de cabeceira; garrafa de champagne brut emborcada no balde de gelo; uma taça intacta num criado mudo, a segunda no chão, junto do escarpin de seda molhada, numa poça espumosa sobre o carpete marfim.
Ele, num ronco suave, deitado sobre um ombro, a mão sobre o mamilo dela ainda rijo.
E aquele mundaréu de rosas, duzias e duzias, em dezenas de vasos espalhados pelo quarto apagado.
Adorada, sim.
Seu corpo nu reage a um inesperado calafrio: narinas tremulas, bochechas ligeiramente infladas a soprar o excesso daquele aroma invasivo, tingido de carmim.
No teto branco, única claridade visível, busca uma imagem de sua infância: flores brancas, pétalas recortadas desvendando pistilos amarelados, no altar da santa a quem, vez por outra, dedicava suas comunhões.

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