quarta-feira, 7 de setembro de 2011

UM CONTO CHINÊS - Resenha

Título Original: Un Cuento Chino
Produção: Argentina/Espanha 2011
Direção: Sebastián Borensztein
Cast: Ricardo Darín, Ignacio Huang, Muriel Santana

O cinema argentino ataca outra vez, ganhando, de forma merecida, impositiva e definitiva, seu lugar na história do cinema. Numa demonstração de maturidade que vem conquistando há mais de duas décadas, aparece mais uma vez em uma pequena grande obra de arte: pequena pela modéstia de sua produção, grande pelo resultado.
O Diretor Borensztein, com a meticulosidade de um artesão-entalhador do século dezesseis, colocou em cena a loja, a casa, as manias, o isolamento, as rabugices de um hómem solitário. Com a mesma meticulosidade, este ator fenomenal que é Ricardo Darín, construiu um personagem que consegue convencer - e convencer-se - de suas manias, seu isolamento, suas rabugices, escondendo até para si mesmo, uma delicadíssima alma de samaritano. Borensztein orquestrou de tal maneira o cenário e seus componentes corriqueiros, que qualquer cliente que entrasse naquela loja, ou penetrasse naquela casa, acharia tudo coerente, natural, intrínseco ao personagem.
E que personagem! Vive cultuando e colecionando lembranças que não são dele, desde os bibelôs para a mãe que não chegou a conhecer, às notícias inusitadas que recorta compondo um acervo cuidadosamente encadernado. É naquelas notícias que viaja, imaginando locais, panoramas, acontecimentos. O inusitado do mundo que um dia entrará pela sua porta.
Ricardo Darín não interpreta: idealiza, cria e acredita em suas falas, como se o filme não tivesse script nenhum, pois suas palavras saem "impromptu" da personagem que ele acabou "sendo". Os DeNiros e os Depardieus da vida tem agora um rival à altura, dificilmente igualável.
No Conto Chinês tudo tem o ar de que as coisas estejam acontecendo quando as vemos naquela tela. A naturalidade das poucas personagens, tão importantes quanto cada peça de móveis da casa do protagonista, quanto cada caixa de pregos de sua loja. Um jovem chinês de olhares, de tremores, de quase infantilidade. Uma mulher apaixonada que nem se sonha em produzir-se para visitar o homem que ama.
O cinema argentino está exportando sabedoria para os cineastas já universalmente conhecidos, admirados e premiados. A história que inspirou o filme, tão incrível quanto inusitada, foi divulgada por um noticiário da Televisão Russa e quem tem o hábito de permanecer na sala após o final do filme e durante a lista dos créditos, terá na tela a reprodução do seu original no idioma. Mais uma vez Borensztein fez um trabalho de formiguinha, conseguiu o tape e o usou com o cuidado com que se tratam as peças de arte. E acabou criando mais uma.

3 comentários:

david disse...

Hum....fiquei com água na boca. Vou assistir na primeira oportunidade. Excelente introdução ao filme! David.

concha celestino disse...

Mais um filme imperdível! De agora em diante vou abrir seu blog antes de ir ao cinema. Não vejo nos jornais uma seleção de bons filmes e sempre tão bem comentados.
bj.

Anônimo disse...

Bruna, querida. Me senti realmente maravilhada com o filme e você conseguiu ser certeira encaixando meus sentimentos nos lugares certos com as suas observações.
Sempre tão incrível!

beijo enorme e saudoso,

Raquel