quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

RESENHA DO FILME " INCH'ALLAH "


Título original: Inch'Allah
Produção: Canadá/França 2011
Direção: Barbeau-Lavalette
Cast: Evelyn Brochu, Sabrina Quadzani, Sivan Levi, Youssef Sweid

Um filme perturbador: desde o começo. Um visual tremido (camara ao ombro), sua iluminação escura, focalização de olhos perscrutadores ao redor da desolação palestina. Assim mesmo, uma analise individualística de quão inútil e desperdiçada a colaboração de pessoas bem intencionadas num ambiente de difícil penetração. Pior ainda: de difícil compreensão. Como penetrar na verdade de um ser humano movido a profundos ideais arraigados por religiões contrastantes da sua e entre elas. Quando se está convencido de estar fazendo todo o possível para ajudar, de repente o “seu” todo possível não é o “todo” para quem o recebe. A médica Canadense que mora em TelAviv para poder prestar serviço humanitário num ambulatório feminino da Palestina enfrenta a toda hora a passagem perigosa e cansativa entre os dois territórios, participa da vida doméstica de algumas pacientes e sem querer entra na angustia daqueles personagens. Um deles, jovem grávida que vive com o filho de alguns 6/7 anos, numa casa sem conforto dividindo o espaço com a mãe, e o irmão, enquanto o marido, preso, aguarda detalhe da condenação. Apesar da instabilidade social e da perpétua insegurança de vida, tanto em Israel, como na Palestina – surgem momentos de relaxamento com encontro dos grupos dos dois setores, cada um no seu, com suas musicas, suas danças, seus bate-papos descontraídos, suas horas de laser, suas concessões para sexo ocasional. Em emergências, pode-se estar a pouca distancia física, mas longe por exaustivos impedimentos políticos, territoriais e sociais. Isto pode acarretar mortes apesar de esforços sinceros, até sobrehumanos. E nunca poderão ser consertadas, nem perdoadas, nem esquecidas.
É um bom filme, tecnicamente deficiente apesar de ser uma produção franco-canadense, que provavelmente fez questão de que a falta da técnica cinematográfica, enfatizasse a falta de clareza de situações que o ser humano tem dificuldade em identificar: demasiadas vezes, o ser humano se perde em si mesmo, a procura do “certo”, do “quando” do “como”.
Interpretações corretas intercaladas por muitos outros personagens evidentemente arrecadados in loco entre habitantes da região. Muito tocante o menino palestino que, sem dizer uma palavra, transita nos acontecimento abanando um manto vermelho, como o super-homem de sua imaginação, enquanto com seu comportamento e seus raros momento de brincar, revela as angustias de crianças sem futuro, a cada momento, arriscadas a não ter mais família.
Vale a pena ver: temos muito que aprender com as inseguranças alheias.

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