segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ODE À MAÇÃ

(para Tiago e sua receita de torta de maçã
a ser degustada ao som da bossanova)

Grande, pequena, vermelha, alaranjada ou verde.
Rústica, com seu cabo ainda preso numa covinha enferrujada.
Ou limpa, pálida, brilhante e lustrosa como bilhas preciosas.
Suculenta, farinhenta, doce ou acídula.
Empilhada em pirâmide, coberta de papel de seda
ou protegida por luva de rede macia.
Não importa como.
Não importa a origem nem o nome fantasia
que o marketing lhe cria.
Atravessou mito, estórias e histórias:
de uma Eva aliciada por Adão
à Branca de Neve na mira da bruxa,
de Paris para Vênus, contra Juno e Minerva,
a Guilherme Tell em desafio ao invasor
para a independência helvética.
Maçã é também o fruto que Rafael quis,
num tríptico de altar genovês,
que Madalena oferecesse a Cristo.
Ela é rainha em naturezas mortas
entre tachos de cobre, vasos de flores e cachos de uva,
desde os clássicos Holandeses, Renascentistas
e até os Impressionistas.
É tema de filmes, de contos, de feiras.
Desde sempre mãos maternas a abrigam em concha,
metade de cada vez, raspando com colher
as primeiras sobremesas.
E continua na nossa mesa,
alimento dos mais saudáveis.
Freqüenta os menus mais sofisticados
em todas as línguas do planeta:
da nossa torta de maçã à apple-pie,
do apfelstrüdel à tartetatin,
com sorvete, chantilly ou coulis de raras frutas vermelhas.
Maçã! uma fruta e tanto!
Até pronunciar a palavra ma-çã
nos dá a sensação
de estarmos abrindo a boca na primeira sílaba,
para dar uma gostosa mordida na segunda.
Privilégio e prerrogativa só de nosso idioma

2 comentários:

Karen Kipnis disse...

Bruna, você é como seu texto: uma delícia! Ele tem seu suor, seu sabor, seu amor e douçura:
suculento !Forma e conteúdo perfeitos...
KK

Blog da Bruna disse...

Hái Karen: vindo de voce, estas palavras me comovem e me realizam...bejos Bruna