quarta-feira, 13 de junho de 2012

PRIMAVERAS


---margaridinhas salpicam os gramados, folhagens desabrocham viçosas, laranjeiras ainda conservam uns velhos frutos mas já se ornam de milhares de botões brancos exalando seu perfume.
É também assim que as pessoas sabem que a Primavera está chegando.
As ervas daninhas que um dia se infiltraram nas rachaduras dos velhos muros, a procura de uns grãos de terra, agora estão dando florzinhas rosadas. Aquelas ervas inúteis, desconhecidas, tem esse habito de invadirem os vãos entre pedras, surripiadamente, como os dedos de um batedor de carteira nos bolsos de sua vítima: ficam, se instalam, florescem, crescem e se coram ao sol para soltar suas pétalas enrugadas só no outono.
A estranha atmosfera inunda as avenidas, as ruas, os parques, as janelas. Aquele terraço, lá em cima no quarto andar vomita ramas e ramas de folhagens a emoldurar cachos e cachos de glicínias azuladas. É essa existência nova, renovada, quase virtual que reveste o ar como um tecido efêmero, de duas face, para vesti-lo de roupa apta ao mimetismo da nova estação.
As estações parecem não ser mais como antigamente, mas ainda fazem seu trabalho.No despertar da primavera, as gemas ainda comparecem nos ramos, as flores florecem e nos lembramos de ter um corpo ainda capaz de reconhecer os sinais do renascer.
Num rocambolesco correr, está aqui o passado.
O mês adolescente.
A dúvida entre a manga longa e a curta.
Os frutos já despontando, mas ainda estão verdes.
Os peitinhos em botão, ainda não florido.
O primeiro batom ainda claro com sabor de atrevimento.
O começo de tudo aquilo que o verão nos trará, sem grandes promessas mas com grandes esperanças.
Eu estive lá, na nova velha primavera.
O momento em que podemos dar-nos conta de que os filhos já cresceram, que os amigos envelheceram, exatamente como nos, e que de repente descobrimos como seria bom ver este Maio, esta Primavera, sempre, pela janela de nossa casa.





Nenhum comentário: