quarta-feira, 24 de setembro de 2008

AME.

(texto de amor com poemas para uma amiga que já é poema)

Escuridão* Três fósforos, um a um, acesos na noite
O primeiro para enxergar teu rosto inteiro
O segundo para ver teus olhos
O último para ver tua boca.
E a escuridão total para lembrar-me
de tudo isto enquanto te aperto nos meus braços.

Amar não é só apaixonar-se, desejar, querer tocar, querer sorver e absorver, trocar beijos, fluidos e sonhos. É também trocar respeito, amizade, cultura, gostos, sabores. É também construir algo dividindo seu dia-a-dia com alguém, mesmo que não seja para sempre. Mesmo a dois – e enquanto durar – aquele construir tem que aglutinar os seres ao redor, sem isolamentos, sem segredos, sem vergonhas ou pudores. Na mais sincera forma de aceitação, livre de preconceitos, de exigências, mas oferecendo e aceitando críticas procedentes mas construtivas, portanto benéficas. Seguramente, uma das mais lindas e gratificantes formas de amar é – mesmo sem se amar reciprocamente – aprender a amar a dois a mesma coisa. Será a única forma de enriquecer e perpetuar o amor que já nasceu conosco. Entretanto nos surpreendemos diariamente com o nosso próprio esquecimento de valores, e só mais tarde nos conscientizamos que pecamos. Tarde demais? Nem sempre: vale pedir desculpas, confessar, retratar-se? Vale, sim: Se nosso amor for maior que nosso orgulho. E ame também as coisas ruins que cruzam e cruzaram sua vida. Ame sua infância, sua vida passada, mesmo sofrida. Ela lhe trará cheiros e sabores que você pensa ter esquecido. Ame sua força de superar e superar-se: ela é a fazedora de resultados, apesar de tudo. Respeite-se por ela. E, sobre tudo, não abra mão de seus sonhos, nem do seu sonho de amor, mesmo inadequado ou esgotado. Como disse um poeta quase desconhecido**, neste versinho amargo mas revelador:

Não obstante meu ardor,
esta atração enorme que me envolve,
não posso prosseguir:
Você é humano demais para o meu sonho

*Jacques Prevert (1900-1981?) escritor e cineasta (Os visitantes da noite, As crianças do Paraíso, O cáis das Névoas)- No livro: “Palavras”
**Arlindo Viana,- No livro “Poesias em quatro atos”.

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